Em uma cidade onde o estilo clássico prevalece, existem centenas de esculturas a céu aberto decorando fontes, praças, jardins, parques, igrejas e cemitérios. Porém, há outras tantas que fogem completamente ao padrão estético predominante e provocam reações diversas nos passantes – curiosidade, estranheza, poesia, ternura – cumprindo muito bem o papel da arte de instigar nossos sentidos e sentimentos.
Algumas são bastante conhecidas por estarem próximas a locais mais visitados, outras nem tanto… Conheça agora 4 esculturas que certamente chamam a atenção pela peculiaridade e descubra a história por trás de cada uma.
1) O Passe-Muraille, em Montmartre, é uma escultura já conhecida de muitos turistas que se aventuram fora dos limites da Sacré-Coeur e descem a colina explorando as ruas estreitas do bairro. À primeira vista, essa escultura de Jean Marais produzida em 1989 parece bastante divertida, mas o personagem representado aqui – baseado em um romance de Marcel Ayme – passa por uma grande desgraça…
Na história intitulada como “Le Passe-muraille”, o personagem Dutilleul, um modesto funcionário que vive em Montmartre, descobre que tem o poder de atravessar paredes. Ele usa esse dom em benefício próprio, até se tornar um homem rico, antes de ser jogado na cadeia… e escapar! De volta a Montmartre, apaixona-se por uma mulher infeliz no casamento e volta a atravessar paredes para encontrar-se com ela debaixo dos olhos do marido ciumento, até perder seu dom e ficar emparedado para sempre na Rue Norvins… Jean Marais, ator e escultor francês, imortalizou o passe-muraille na parede diante da casa de Marcel Ayme.
- Onde: Place Marcel Aymé, 75018 Paris
- Metrô: Abbesses (linha 12)
2) “L’ Ecoute” – O Ouvinte é uma enorme obra criada, em 1986, pelo escultor francês Henri Miller e instalada em Les Halles, um dos bairros mais antigos – e atualmente menos atraentes – da cidade. A escultura instalada na Place René Cassins, próxima aos degraus da antiga Igreja St. Eustache, representa a cabeça de um homem de semblante pacífico que se apoia sobre sua mão e, sorrindo, escuta o mundo à sua volta, encorajando os passantes apressados a parar por um momento e fazer o mesmo.
Atualmente, Les Halles é um imenso canteiro de obras e, portanto, evitada pelos visitantes. mas o imenso projeto de revitalização – já em execução – promete entregar um espaço verde e charmoso que se integrará com todas as ruas do entorno, restaurando, assim, a atratividade e importância do bairro. Mas é possível visitar a linda Église Saint-Eustache e a gigantesca escultura sem problemas.
- Onde: Place René-Cassin, 75001 Paris
- Metrô: Les Halles (linha4)
3) Escondido na Place Samuel de Champlain entre o Cemitério Père-Lachaise e a Avenue Gambetta, no 20ème, o “Monument aux victimes des Révolutions” (Monumento às vítimas das revoluções) foi criado em 1909 por Paul Moreau-Vauthier com pedras originais do mur des Fédérés, contendo ainda furos de balas decorrentes do fuzilamento que matou 141 pessoas em 1871.
Invisível a quem passa pela rua, esta parede transmite uma emoção estranha aos visitantes curiosos que entram na praça… As esculturas fantasmagóricas parecem estar em profunda dor e agonia, representando a as vítimas de ambos os lados de todas as revoluções. No canto inferior esquerdo está gravada a seguinte citação, que pertence a Victor Hugo: “O que queremos no futuro, o que queremos dele é a justiça, não vingança.”
- Onde: 18 Avenue Gambetta, 75020 Paris
- Metrô: Père Lachaise (linhas 2 e 3) e Gambetta (linhas 3 e 3bis)
4) “L’Homme aux semelles devant” é uma obra do escultor Jean-Robert Ipoustéguy localizada na Place du Père-Teilhard-de-Chardin, em frente à Bibliothèque de l’Arsenal, no 4ème. A estátua de bronze encomendada por François Mitterrand, em 1984, é uma homenagem ao escritor Rimbaud, apelidado de “o homem com sola de vento” – L’Homme aux semelles de vent.
A escultura de Ipoustéguy faz referência ao poema Le Bateau Îvre de Rimbaud (“Comme je descendais des Fleuves impassibles”), ao passo que representa também o próprio escritor, um poeta aventureiro que viajou pelo mundo após encerrar, aos 21 anos, sua carreira literária, até sua morte precoce, aos 37 anos.
- Place Père-Teilhard-de-Chardin, 75004 Paris
- Metrô: Sully-Morland (linha 7)
Espero que tenha gostado da seleção de esculturas incomuns que fiz. Quais são as suas favoritas?
Bisous
Carol
4 comments
Beatriz
15 de janeiro de 2017 at 08:50
Gosto muito da escultura L’ecoute. Acho divertida e profunda ao mesmo tempo. Intrigante talvez seja a palavra.
Visitei Les Halles agora em dezembro e achei muito bacana as reformas.
Carol Pio Pedro
16 de janeiro de 2017 at 10:54
Oi, Beatriz!
É realmente uma escultura linda!
Gosto ainda mais pelo fato de ser pública e acessível a qualquer um
Les Halles ficará lindo após a reforma e essa obra de arte terá ainda mais destaque!
Bisous
Carol
Renata
23 de junho de 2020 at 11:22
Sou muito apaixonada por esta escultura, por seu significado, pelas reflexões que induziu em mim.
Fica num ponto que não consta de nenhum roteiro clássico mas vale muito a pena a visita a Les Halles e ver como é o jovem parisiense…. a Igreja de São Eustaquio, lindíssima, deu uma paz profunda no coração.
Riva
2 de junho de 2020 at 11:13
Assunto muito interessante e ótimas explicações sobre cada monumento. O que mais me tocou foi o Monumento às Vítimas das Revoluções. Transmite o sofrimento das pessoas sacrificadas.