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Arte urbana: Invader

31 de janeiro de 2017 — by Carol Pio Pedro2

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Já reparou nos inúmeros mosaicos em forma de personagens clássicos do vídeo-game espalhados pelas paredes de Paris? Com mais de 1.000 figuras em 8-bit criadas com azulejos, hoje em dia é fácil encontrar o trabalho de um dos maiores artistas urbanos da atualidade, o Invader.

O artista que não revela sua identidade já carimbou as paredes de mais de 30 países, incluindo o Brasil. Um de seus personagens inspirados no jogo “Space Invaders” pode ser encontrado no Beco do Batman, na Vila Madalena, em São Paulo, mas é em Paris que Invader mais atua e expõe sua arte, auto-intitulada como “invasão”.

O projeto Space Invader procura “libertar a arte dos seus alienadores habituais, que podem ser museus ou instituições, mas também busca libertar os Space Invaders dos jogos de vídeo-game e trazê-los para o nosso mundo físico”, explica o artista. Tudo começou quando ele experimentou materializar a pixelização usando azulejos. A ideia era implantar suas criaturas nas paredes de Paris e, na sequência, em cidades ao redor do mundo, tornando cada uma dessas peças únicas fragmentos de uma instalação monumental.

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Invader no 10ème (foto Melina Ferreira)

Se sua inspiração inicial foram as criaturas do jogo de video-game, rapidamente Invader expandiu seu universo e criatividade, criando mosaicos de personalidades como Picasso, personagens de desenhos, como o Patolino e a Pantera Cor-de-Rosa, e até mesmo de outras obras de arte, como a Mona Lisa.

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Invader no 5ème (foto Melina Ferreira)

Sua “estratégia de invasão” consiste em explorar áreas urbanas densamente povoadas e invadi-las com sua arte, que ele mesmo define como um mix de street art, arte contemporânea e – porquê não – um jogo. Normalmente, 20 a 50 peças são instaladas por cidade, mas isso pode variar muito. Algumas cidades estão mais no radar de Invader e de tempos em tempos provoca novas ondas de invasão, aumentando, assim, sua pontuação por conquistar novos territórios.

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Invader no Canal Saint-Martin (foto Melina Ferreira)

Além dos monumentos clássicos, agora você tem mais uma razão para olhar pra cima quando estiver caminhando pelas ruas de Paris! Invader não pára e toda vez que volto à cidade vejo novas intervenções – todas sempre criativas, coloridas e divertidas. The game is not over!

Bisous :)

Carol

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O exótico edifício Castel Béranger

26 de janeiro de 2017 — by Carol Pio Pedro3

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Dizer que Paris é um prato cheio para os amantes da arquitetura é chover no molhado. Nem precisa ser expert ou ter o olhar apurado pra gente se embasbacar com o conjunto arquitetônico imponente e único dessa cidade que mais parece um grande set de filmagens.

O estilo haussmaniann predomina e molda o cenário parisiense desde o fim do séc XIX com suas fachadas padronizadas, sempre a mesma altura, os 6 andares, as varandas ricamente ornamentadas com ferro forjado no 2º andar (o piso mais nobre), as pequenas janelas no 6º andar (o piso destinado aos empregados na época) e as lojas de comércio no térreo.

Apesar da homogeneidade, as construções são ricas em detalhes e merecem toda nossa atenção. Mas o artigo de hoje trata de uma obra em estilo completamente diferente aos traços retos e padronizados impostos pelo Barão de Haussmann durante a grande reforma. Quero apresentar o edifício residencial mais exótico de Paris e contar um pouco sobre seu idealizador.

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Castel Béranger
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Castel Béranger

Hector Guimard era ainda um jovem arquiteto desconhecido quando recebeu, em 1895, a encomenda para construir um prédio residencial modesto no terreno da família Fournier localizado no 16ème, em Passy. A estrutura do edifício foi iniciada em um estilo muito diferente mas, durante uma viagem para Bruxelas, Guimard conhece Victor Horta e é influenciado pelas obras deste arquiteto.

Guimard retorna à Paris, altera o projeto e aplica os princípios de rejeição de planicidade e simetria, e coloca em prática o conceito fundamental da Art Nouveau: a unidade completa da obra. Por se tratar de um edifício modesto ele utiliza materiais de baixo custo na fachada – uma mistura de tijolo, areia, metal e pedra – que conferiram ao prédio um tom claro e harmonioso. As particularidades mais incríveis são, sem dúvida, a porta de entrada, bem incomum, ricamente trabalhada em ferro e os balcões ornados com o mesmo material com detalhes de cavalos-marinhos – tudo em azul.

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Porta de entrada Castel Béranger

Em 1898, o prédio de 36 apartamentos é entregue e o Castel Béranger torna-se o primeiro edifício Art Nouveau de Paris, além da primeira grande obra de Guimard, até então, um ilustre desconhecido. A imprensa e o público acostumados à regra de simetria não reagiram positivamente ao novo estilo mas, ainda assim, seu projeto conquista o prêmio de mais bela fachada da cidade.

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Castel Béranger

Guimard tornou-se famoso em função do prêmio conquistado e deixou sua marca ainda em outros prédios pela cidade mas, principalmente, nas entradas dos metrôs parisienses. Sim, aquele famoso arco com grades de ferro verde é projeto dele! Confira o post sobre esse assunto aqui.

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Entrada dos metrôs de Paris idealizada por Hector Guimard

Ainda que a Art Nouveau tenha sido um movimento relativamente efêmero e que não tenha agradado a todos, a importância de Guimard é indiscutível, a ponto do Castel Béranger tornar-se monumento histórico em 1992 e permanecer o símbolo da Art Nouveau no país.

Dica: Passy é considerada uma região nobre e bastante residencial. Apesar da proximidade com pontos turísticos como a Torre Eiffel e a Pont de Bir-Hakeim, há poucos visitantes na redondeza. Sugiro um passeio para descobrir as “belezas comuns” do cotidiano e ainda outros pontos mais conhecidos, como o Musée du Vin, a Maison de Balzac, o Parc de Passy e, claro, o Castel Béranger.

  • Castel Béranger
  • Onde: 14 Rue Jean de la Fontaine, 75016 Paris
  • Como chegar: metrô Ranelagh (linha 9)

Bisous :)

Carol

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Lendas de Paris: O barbeiro da Île de la Cité

23 de janeiro de 2017 — by Carol Pio Pedro0

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Uma das lendas de Paris mais conhecidas nos leva de volta à Idade Média, no fim do séc. XIV, à Rue des Marmousets (atual Rue Chanoinesse) na Île de la Cité. Conta-se que essa rua abrigava uma barbearia e uma pâtisserie, e que, em 1387, os donos desses dois estabelecimentos elaboraram uma estratégia macabra para aumentar seus lucros…

Primeiramente, é preciso entender que essa região era bastante popular entre os estudantes estrangeiros naquela época, principalmente pelo fato de que a proximidade com a Catedral de Notre-Dame conferia direitos especiais aos residentes, como imunidade legal e isenção fiscal. Assim, esse público específico veio procurar abrigo aqui e foram acolhidos pelos cônegos que, de bom grado, alugavam seus quartos vagos.

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Fonte: http://www.paris-a-nu.fr/

O problema é que, por vezes, alguns estudantes desapareciam, mas acreditava-se que haviam sido vítimas de bandidos – o que era bastante comum naquele tempo de miséria… Até que um dia descobriram o real motivo do sumiço desses estudantes, graças a um cachorro!

Foram os latidos insistentes de um cão, que permaneceu dias em frente à porta do barbeiro à espera de seu dono (um estudante alemão que entrou na barbearia e não mais saiu), que levantaram a suspeita dos vizinhos e, finalmente, descobriram o horrendo crime que os dois comerciantes praticavam.

Pressionado, o barbeiro confessou que matava os jovens na cadeira de barbear, passando sua navalha na jugular deles e que, por um alçapão, jogava os corpos em seu porão que se comunicava com o do pâtissier e este, por fim, preparava tortinhas de carne vendidas aos cônegos e outros oficiais da Catedral de Notre-Dame.

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Fonte: http://www.paris-a-nu.fr/

Reza a lenda que a torta da Rue Marmousets era um sucesso tão grande que o próprio rei Carlos VI encomendava entregas regulares! Diz-se ainda que após o crime vir à tona, vários clientes morreram de tristeza ao saberem que o recheio era preparado com carne humana.

Ambos os assassinos foram queimados vivos em uma gaiola de ferro e suas casas, completamente destruídas. Não há provas de que esses crimes realmente aconteceram, mas dizem que os estabelecimentos ficavam onde hoje está a garagem da polícia da Île de la Cité e que o único vestígio do passado macabro encontra-se nos fundos do prédio: um bloco de pedra supostamente usado para corte pelo pâtissier sanguinário.

Atualmente, a Rue Chanoinesse é um oásis de tranquilidade, assim como as demais ruazinhas do entorno. Particularmente, adoro essa área da Île de la Cité, com traços medievais bastante preservados e muito menos gente circulando, ainda que estejamos a um quarteirão da Notre-Dame.

  • Local do possível crime: Garagem da polícia da Île de la Cité
  • Endereço: 20 Rue Chanoinesse, 75004 Paris
  • Metrô: Cité (linha 4)

Fonte:

Bisous,

Carol